segunda-feira, 10 de novembro de 2008

S.P.O.T



A Ana Neto e sus muchachos estão de parabéns. Um ano de S.P.O.T a fazer pela cultura no Porto. 
http://www.myspace.com/spotarte

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Helen Levitt



Noz em Nova Iorque.



Raquel Sanguedo foi, desde sempre, uma daquelas pessoas que acham que “só os peixes mortos vão com a corrente”. Foi contra a corrente que há seis anos fugiu do Porto para Nova Iorque para fazer um MBA. Com um horário apertado pelos estudos, começou a trabalhar nas horas vagas a servir à mesa no número 118 de St.Marks Place, no St.Dymphna’s, um restaurante irlandês no coração de East Village. É um lugar muito simpático, um restaurante-bar de bairro, meeting point de artistas, despretensioso, e onde se come muito bem. Não demorou muito tempo até a Raquel se tornar gerente, e ser a imagem de marca da casa. De sorriso rasgado e braços, literalmente, abertos a todos aqueles que ali entram, passou, pouco tempo depois, de gerente a sócia, até que no final de 2007 acabou mesmo por tomar conta do lugar. O St.Dymphnas é dela.
Curiosamente, St.Dymphnas (Santa Dymphna) é a padroeira daqueles que sofrem de afecções mentais e nervosas, o que, garanto-vos, não ser o caso desta portuguesa de 31 anos que, com um percurso digno de se tornar argumento para um filme, tem vindo a marcar terreno na Big Apple.
O vinho a copo, ou neste caso o wine by the glass, é prática comum em grande parte dos bares e restaurantes trendy da cidade, não sendo excepção no St.Dymphnas, muito embora os vinhos portugueses pouco ou nada representados, segundo percebi porque em termos de preço agora agravado pelo valor alto do Euro em relação ao Dólar, se torna muito difícil de competir com os vinhos da Califórnia, Chile, Argentina, entre outros.
Mas a história não fica por aqui. A Raquel, como já referi, e como boa portuguesa que é, tem um enorme jeito para receber pessoas e para as servir. Tendo os contactos e o know-how acumulados por alguns anos na área da restauração, começou a fazer, com a sua irmã Patrícia, pequenos serviços de catering para empresas e pequenas festas. Criaram então a Noz Home & Catering. No seu site (nozcatering.com), irrepreensível em termos de imagem, podemos ler qualquer coisa como isto que aqui deixo em tradução livre: “Um reino independente desde o séc.XII, Portugal tem uma das mais ricas histórias e culturas de toda a Europa. (...)A Noz Home & Catering, uma companhia portuguesa sediada em Nova Iorque, traz-lhe, através do Atlântico, os autênticos sabores, as especialidades e a decoração da sua terra natal (...).”
Com clientes como Paul McCartney, Calvin Klein, Armani, Carolina Herrera, Vanity Fair ou Elle, é de coração posto na escolha dos diferentes produtos e no cuidado com a sua imagem que fazem a gestão de duas vertentes distintas dentro da mesma empresa, por um lado a realização de serviços de catering de qualidade, com uma média de oito serviços por dia e, por outro, a promoção e venda de produtos portugueses como jóias, serviços de mesa, entre outros.
A cereja no bolo é o facto de estas duas empreendedoras serem bonitas, o que nos ajuda a contrariar a imagem da emigrante portuguesa com bigode, vestida de preto, e que, mesmo quando já está bem na vida, continua a carregar, de semblante triste, o fardo do fado. Estão de parabéns porque, em Nova Iorque, dizer St.Dymphna’s ou Noz Home & Catering, é dizer: “É assim que se faz em Portugal, e bem”.

JMA
Publicado no Semanário Económico

sábado, 1 de novembro de 2008

Zumba!



Ontem ao fim da tarde saí do trabalho e fui até à praia. Desde que lá cheguei até me vir embora, cerca de uma hora depois, dois miúdos estiveram a dar “um” apaixonado beijo. 
A certa altura, fiz um quadrado com as mãos, simulei o visor de uma máquina fotográfica e, com aquelas duas silhuetas entrecortadas pela luz do sol, compus um postal kitsch de verão, daqueles que são colocados em expositores rotativos à porta das lojas que vendem artigos de praia, jornais, revistas, baralhos de cartas, e corta-unhas com o galo de Barcelos ou com a Nossa Sr.ª de Fátima.
Confesso que não deixei de sentir alguma nostalgia daquelas paixões “de verão” que, apesar de sabermos que seriam sol de pouca dura, eram vividas com uma intensidade imensa.
Quando nos enfiávamos no carro com os nossos pais para ir de férias, partíamos já com a ideia de que há amar e amar há ir e voltar, nunca confundindo as paixões de verão, associadas à praia e aos corpos queimados, às de inverno, associadas à escola e aos cachecóis, porque eram, de facto, coisas diferentes. Tudo era leve.
Os anos passavam e os sentimentos agravavam-se. Entre os dezassete e os vinte anos, as coisas tornavam-se mais sérias e havia já algumas relações com uma espécie de garantia de 3 anos ou 100.000 Kms. Mas nem sempre tudo eram rosas. Mais cedo ou mais tarde, acabava por chegar a altura em que se perguntava “quem te pôs a mão sabendo que és minha?”, ou vice-versa, o que resultava em choro e ranger de dentes mas, como todos sabemos, o tempo sempre foi panaceia para esse tipo de males e, no Natal seguinte, fazíamos as pazes, e até oferecíamos um presente àquela que nos fizera sofrer e que tanto odiáramos uns meses antes, quanto mais não fosse uma réplica de um daqueles objectos que tornaram o Bordalo Pinheiro famoso.
De qualquer das maneiras, com mais ou menos peripécias pelo caminho, e dentro do ciclo habitual que se faz habitualmente dentro das sociedades aburguesadas, a vontade de “assentar” surge por volta dos 30 anos, num processo que culmina no casamento.
Quanto mais tempo passa, menos me convenço de que as pessoas sabem para o que vão quando se casam – é pelo método de Braille que as pessoas embarcam na experiência.
Em nenhuma outra altura da vida a ideia de Conhecimento V.S. Entendimento assume um carácter tão crucial.
Há tempos, dizia-me um sábio senhor de 94 anos que, numa relação “tudo se resume a sabermos manter a chama acesa, sem nos esquecermos de afastar tudo aquilo que é inflamável.” “No meu tempo, se fosse preciso, até o Zumba com Hormonas tomava”, o que, segundo percebi, era um medicamento cujos efeitos estão implícitos no nome. “As paixões não morrem, queimam-se”, e hoje têm tectos de palha seca.” Depois, com os olhos postos no vazio disse-me: “Tenho saudades da minha mulher...sabe, a solidão é a doença do século”.

JMA

Publicado anteriormente no Semanário Económico.
Foto: Judith Wigren-Slack in Learning To Love You More

Jeff Divine