terça-feira, 27 de abril de 2010

Stillness at the Speed of Light.



Stillness at the Speed of Light, Grace Jones by Chris Levine.


Carta Branca.


Ainda a propósito do post anterior, em 2008 escrevi assim no Semanário Económico/Casual:

O conceito das Indústrias Criativas aplicado ao desenvolvimento das cidades teve origem no livro que o economista americano Richard Florida lançou em 2002 com o título “The Rise Of The Creative Class”.
A primeira vez que ouvi falar no tema em relação à cidade do Porto foi em 2004, quando um amigo meu, Miguel Magalhães, me pediu para rever um documento intitulado “Methodological Issue: A Contribution for Porto’s Creative Industries”, a sua tese final para o Mestrado que estava a fazer na City University, em Londres.
Foi o mesmo Miguel Magalhães que, cerca de um ano mais tarde, desenvolveu por encomenda da Comissão de Coordenação de Região Norte, um paper intitulado “Quadro de Referência das Indústrias Criativas no Norte de Portugal”, que serviu de base para o movimento agora iniciado pela CCRN/Serralves, e para o qual desejo, desde já, o maior sucesso. É, sem dúvida, uma óptima iniciativa.
Um pouco por todo o mundo, há já exemplos práticos da aplicação deste conceito. Em Inglaterra, por exemplo, foi criado o cargo de Minister for the Creative Industries and Tourism, numa medida que reflecte, claramente, a preocupação pela gestão das expectativas lançadas pela discussão do tema.
Este tema interessa-me particularmente pelo que, no ano passado, fiz parte de um grupo de trabalho (no qual estava, mais uma vez, Miguel Magalhães), que apresentou à Universidade Fernando Pessoa, no Porto, um projecto a para a criação daquilo que poderia vir a ser o “Porto Criativo - Centro para a Promoção e Investigação das Indústrias Criativas”, ou “Creative Porto - Creative Industries Promotion and Research Center”, na sua versão em inglês.
Este seria um projecto eminentemente académico, cujo objectivo seria o de dinamizar o intercâmbio entre universidades, criadores e players internacionais reconhecidos no sector, com a posterior criação de uma base de dados que permitisse potenciar e promover a região em termos criativos. Tratava-se portanto de um desafio paralelo e, quando muito, complementar àquele que é agora proposto pela CCRN/Serralves.
Após a apresentação de um estudo prévio, em Abril, foi-nos dada, e aqui passo a citar os responsáveis que então nos receberam, “carta branca”, para avançar com o desenvolvimento de um projecto mais concreto, que foi entregue na sua versão final para aprovação em Setembro. Passadas várias semanas, sem que nada nos dissessem, achamos conveniente contactar, por e-mail, as pessoas que receberam o documento, na tentativa de obter algum feedback em relação à viabilidade, ou não, do trabalho proposto. Resposta por e-mail não existiu, os telefones deixaram de funcionar, enfim, um mistério que está ainda hoje por resolver...Resta-nos agora cruzar os dedos e rezar para que, um dia destes, não apareça por aí nenhum “Porto Criativo - Centro para a Promoção (...)”, “Creative Porto - Creative Industries Promotion (...)”, ou coisa que o valha...É que, “Yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay”.

JMA
Publicado no Semanário Económico/Casual, 2008.

E, já agora, e dentro do mesmo tema, é ler também a notícia do JN de hoje: Norte está a fomentar as Indústrias Criativas.


O Livro Verde.



A Comissão Europeia criou um Livro Verde com directrizes para o desenvolvimento das Indústrias Criativas. Ler aqui o artigo do Vítor Belanciano/Público.

terça-feira, 20 de abril de 2010

The Razor's Edge.



O Fio da Navalha foi publicado pela primeira vez em 1944. De facto, as crises são cíclicas, e as questões essenciais sobre a alma e o corpo continuam a ser as mesmas.


Foto: Screenshot de The Razor's Edge, de Edmund Goulding, com Tyrone Power, Gene Tierney, e John Payne.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Escort boys.



Mick Jagger & Hells Angels member.

Os filhos dos feitores.


“Os ricos não souberam, os pobres não puderam e os filhos dos feitores tomaram conta”. Desta maneira singela, Lowater sintetizou a essência das revoluções europeias desde 1789, aos amigos da mãe, de Filadélfia, que aqui ficaram dez dias a descansar do seu Grand Tour europeu.”

In Bilhetes de Colares, A.B.Kotter (A.K.A José Cutileiro).

quarta-feira, 14 de abril de 2010

terça-feira, 13 de abril de 2010

Pam.




Pam, 1944 - MI5 staff member pictured on beach. This ordinary looking snapshot was taken and planted as part of a complex WWII intelligence plan known as Operation Mincemeat.
The intention was that this photograph would make other documents secreted with it seem more authentic. These documents, passed on to German agents after they were found on a body washed up on the coast of Spain (planted by British intelligence) suggested that the Allies were not planning an invasion of southern Europe via Sicily. This led to a weakening of German defence of Sicily which assisted the eventual Allied attack.

Via The National Archives UK's photostream.

Épater le Bourgeois.



"Motor Manufacturing" by Clive Gardiner for the Empire Marketing Board.


A ideia de “work/life balance”, tão em voga noutros países, essencialmente nos do norte da Europa, está ainda num estado embrionário em Portugal. Salvo raras excepções, encontramo-nos ainda no ponto em que se considera competente quem sai às oito ou nove da noite do trabalho, e incompetente ou preguiçoso, quem se organiza para ter vida própria. Por outro lado, as grandes empresas continuam a confundir os “benefits” que atribuem aos seus colaboradores, como os carros, telemóveis, laptops, seguro de saúde, mensalidade no ginásio, entre outros, com a qualidade de vida, maior ou menor, que lhes proporcionam. Naturalmente que há benefícios em trabalhar em empresas que premeiam de forma justa a competência e promovem a progressão de carreira, mas também não deixa de ser verdade que, muitas vezes, os “benefits” são “areia para os olhos”, representando extensões dos locais de trabalho, que fazem com que os colaboradores se sintam obrigados a estar disponíveis a horas em que é suposto estar com a família, com os amigos, ou simplesmente a descansar. Os “benefits” nem sempre trazem benefício.
Nunca houve tanto show-off e, a certa altura, “sabe-se o preço de tudo mas não se sabe o valor de nada”.
O brasileiro Millôr Fernandes disse uma vez: “Pode ser difícil encontrar agulha em palheiro, mas não descalço”. Todos sabemos que nem sempre é fácil encontrar o emprego ideal, mas se nos “descalçarmos”, (e digo isto essencialmente para aqueles que andam à procura do primeiro emprego) - e descalçarmo-nos pode, até certo ponto, significar arriscar áreas que nos digam alguma coisa e que tenham a ver com o nosso perfil em detrimento de alguns dos tais “benefits” que às vezes nos iludem durante anos - teremos certamente uma maior probabilidade de ter sucesso na profissão que escolhemos.
Vejo também que há uma obsessão desmesurada com o academismo. As pessoas saem das universidades e continuam automaticamente o ciclo de aprendizagem nos mestrados, doutoramentos, etc., o que faz com que tenham uma perspectiva teórica do mundo do trabalho, por um lado, e uma enorme falta de noção em relação ao modo de aplicar os conhecimentos adquiridos por outro, e o pior é que dentro deste grupo se encontram alguns professores universitários. Mais importante do que decorarmos supostas técnicas ou fórmulas mágicas é sabermos interpretar realidades específicas e em constante mutação, e ter instinto para reagir, antecipando problemas e soluções. É um processo que se prende mais com a cultura do que com qualquer outra coisa. Obviamente que não pretendo anular o valor intelectual e o empenho inerentes a um mestrado ou um doutoramento, quando feitos a seu tempo e com uma aplicabilidade concreta, mas sim dizer que acho que não vale a pena fazer-se, um ou outro, exclusivamente para se “puxar pelos galões” numa entrevista de trabalho.
Falta “mundo” a uma grande parte dos nossos profissionais, e quando digo “mundo” não é propriamente o mundo que encontramos numa viagem, por melhor que esta seja - até porque, hoje em dia, até as viagens são “de pacote”, oferecendo às pessoas amostras tipo “conserva” de diferentes recantos do mundo, sem grandes margens para o lado romântico da descoberta – mas, essencialmente, falta-lhes ler muito, conhecer pessoas novas, andar a pé, ver filmes antigos, ouvir música para além daquela que está nos postos de escuta da Fnac, saber como improvisar um receita, ou arriscar mudar de emprego.

JMA
Publicado no Semanário Económico/Casual, 2008.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Feedback Screenwriting Lisboa.


Podem ler aqui o feedback que nos foi deixado por alguns dos participantes do workshop de screenwriting/argumento que fizemos com o Michael Sandoval em Lisboa.

Foi uma experiência gratificante que repetiremos em breve, com estes e outros temas.

terça-feira, 6 de abril de 2010

+ Allure.



Não há nada pior do que “estar na moda”. Numa estação têm um look executivo, para seis meses depois passar a ser hippie-chic, e depois punk. Do amarelo-limão passam para o preto, do preto para o azul-eléctrico, e por aí fora, entre novos cortes, padrões, e texturas. Não há uma linha. Noutra perspectiva, e muito embora esta questão não tenha exclusivamente a ver com a moda, há pessoas que, independentemente da sua origem ou classe social, tem aquilo a que os franceses chamam allure – algo que se pode traduzir como a qualidade de se ser misteriosamente atractivo ou fascinante. É algo com que se nasce, uma característica intrínseca, que não se prende necessariamente com a estética tal como a entendemos nos nossos dias - e que se aproxima da definição de Kierkegaard para o “estádio estético” da existência humana, que implica o imediato, o finito - mas antes com a Estética enquanto disciplina filosófica que, segundo a sua definição clássica, tem como objecto de estudo a “essência” e a “percepção” da beleza, assim como as suas formas de representação na arte e na natureza, e os seus efeitos sobre os receptores. O allure projecta a beleza na mesma proporção em que a falta dele a anula, isto é: há pessoas que, num primeiro contacto, não nos atraem mas que, aquando de um conhecimento mais profundo, nos revelam características que acabam por ter em nós um efeito contagiante e, no plano inverso, há outras que, pelas suas características físicas, são atraentes mas que, após um primeiro contacto, nos desapontam em relação à expectativa criada.
A moda da moda (porque a moda enquanto conceito sócio-cultural ultrapassa hoje largamente o âmbito do traje e o estrito acompanhamento das tendências que lhe estão associadas) desencadeou, num curto espaço de tempo, um processo que culmina numa estetização da sociedade em detrimento de uma cultura mais profunda e intelectualmente sustentada. A aparência nunca esteve tão intimamente associada à ideia de sucesso, ou de estrelato, como nos nossos dias. Há uma base comum a quase todas as áreas criativas, e não só, que é sustentada pela aparência.
Um pouco por todo o mundo, actores-modelos ou modelos-actores (já perdi o fio à meada) proliferam em produções fotográficas, filmes, anúncios, séries de televisão, telenovelas e bandas pop que vendem milhões de discos, ao mesmo tempo que impingem os seus “dialectos” e as marcas de roupa que vestem a toda uma geração de adolescentes. O facto de não saberem cantar não representa qualquer tipo de problema porque, na pior das hipóteses, alguém há de cantar por eles. Embora numa escala diferente, e numa clara declaração de que num mundo mediatizado “tudo é possível”, o efeito atingiu o seu potencial máximo com a chegada de Carla Bruni ao Eliseu.
Perante toda esta histeria estética li no The Sartorialist - um blogue que a Time Magazine incluiu no seu Top 100 of Design Influencers – a seguinte frase: “A elegância é algo que deve ser sussurrado e não gritado”. De facto, é uma frase que, à partida, não tem nada de especial, mas que acaba por ser revolucionária, na medida em que vai contra as “tendências” em voga. No meu entender aponta para algo que não se prende necessariamente com o poder de compra, com determinadas marcas ditas “de luxo” ou logótipos gritantes, mas antes com a genuinidade, o carisma, a personalidade, e o tal allure de que eu falava ali atrás. É uma ideia que remete para aquelas poucas pessoas que conseguem dar um efeito deslumbrante a um vestido comprado por 20 euros numa loja de roupa em segunda-mão, quando a norma é precisamente o inverso. E, se pensarmos bem, muito embora no seu contexto original esta ideia se aplique a pessoas, adequa-se também à música, a uma obra de arte, a uma casa, a uma loja, ou a um restaurante.


JMA
Excerto de artigo publicado no Semanário Económico/Casual, 2008.

Photo: Scott Schuman/The Sartorialist

+ From Villa Nellcote.



Keith Richards & Anita Pallenberg, Villa Nellcote.