sexta-feira, 30 de julho de 2010

Sobre as coisas amenas.





O depoimento de Calazans Neto sobre a passagem de Vinicius de Moraes pela Bahia, ilustra de uma forma perfeita o estado de espírito que deveríamos conseguir alcançar (pelo menos) durante as férias. Duas semanas não são certamente suficientes, nem talvez o seja uma vida inteira, mas aqui fica a inspiração para o melhor que conseguirmos fazer:

"A passagem de Vinicius de Moraes pela Bahia, nós podemos resumir como a sua passagem em Itapoã, porque foi onde realmente ele sentiu uma Bahia, mas uma mais morna, mais cheia de encanto, uma Bahia cercada de uma paisagem muito bonita, e esta sua passagem por Itapoã marcou, porque nós nos reuníamos aqui no meu ateliê, que era perto da casa dele, e então, todas as manhas nós conversamos até o fim do dia. Mas conversávamos sobre o quê? Sobre as coisas que a vida tem de boa, as coisas amenas, então, não queríamos mudar nada, queríamos aceitar a vida como ela era, gostosa, morna, engraçada. Então, a nossa conversa era sobre como a gente podia ver um dia em Itapoã. Era do nascer do sol ao morrer do sol, às vezes sem fazer absolutamente nada. Chega um tempo em que você descobre que o bom é não fazer nada, é ver o dia passar. No dia em que você consegue, como nós conseguimos, eu e Vinicius, conversando sobre amenidades, ver o dia passar, de manhã até o sol se por, é quando você realmente está tranquilo, onde você não é neurótico, onde as coisas estão muito mais presas no seu íntimo. Então, era isso a nossa vida aqui em Itapoã com Vinicius de Moraes."

Calazans Neto, In Vinicius, de Miguel Faria Jr. (2005).


E assim vamos a banhos. Boas Férias.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Sobre o declínio.



Henry Jamyn Brooks, 1889.
Private View of the Old Masters Exhibition, Royal Academy,
National Portrait Gallery, London.


"Até há não muito tempo, a única maneira de alguém ficar verdadeiramente rico era tornar--se empresário industrial. Muitos partiram do zero e, pouco a pouco, criaram empresas próprias, inventando os produtos, a maquinaria e o sistema de distribuição em conjunto com os seus colaboradores, técnicos e operários. Em seguida inundavam o ambiente social que os rodeava, imprimindo- -lhe o próprio andamento. Por vezes reuniam em torno de si cientistas, artistas, escritores e criavam prémios literários. Nomes como Agnelli, Mattei, Ferrari, Ferrero, Barilla, Marzotto, Ratti, Merloni, Pirelli, Mondadori, Trussardi, Della Valle, Rizzoli, Benetton, Borletti, Zegna e Armani são evocativos de gigantescos complexos industriais, fantásticos palácios, fundações, iniciativas culturais e colecções de arte maravilhosas.

Já hoje em dia a riqueza advém cada vez mais da incursão no sector financeiro ou do êxito desportivo ou televisivo. Muitas empresas há que são dirigidas por um gestor que salta de firma em firma e de país em país, não se interessando grandemente por criar uma sede elegante, uma rede de relações humanas estáveis ou uma comunidade de artistas. Muitas vezes, se não tem gosto próprio, contrata o arquitecto mais famoso que consegue. Para a publicidade recorre a uma agência, para congressos e seminários confia nos pivôs televisivos mais conhecidos." (Continuar a ler aqui).

Por Francesco Alberoni, Via Jornal i.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

terça-feira, 20 de julho de 2010

Soluções de contrapeso II.


E por falar em soluções de contrapeso:

Segundo notícia do jornal i, "A Fundação Calouste Gulbenkian anunciou hoje que os seus activos totais atingiram 2.800 mil milhões de euros em 2009, um crescimento de 63,2 milhões de euros face ao ano anterior. (...) A Fundação salienta ainda que a “estabilidade da [sua] situação financeira lhe permitiu manter, em 2009, praticamente sem alterações, a sua acção filantrópica no âmbito das quatro áreas estatutárias” - Arte, Beneficência, Ciência e Educação -, apesar das "condições adversas associadas à crise económico-financeira internacional"."

Nota: Ao contrário do texto da notícia do i, este post não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.


quarta-feira, 14 de julho de 2010

Soluções de Contrapeso.



Foto: Fundação Calouste Gulbenkian/Manuel Silveira Ramos.

A recente descativação excepcional de 7,5 por cento das verbas do PIDDAC para a cultura é uma boa notícia.
De facto, temos assistido a um grande debate sobre a importância do sector e o modo como este, nas suas mais variadas vertentes e agora com o tema das “Indústrias Criativas” à cabeça, pode contribuir para o desenvolvimento das cidades e do país. Projectam-se clusters, promovem-se conferências, exploram-se patrocínios, subsídios e incentivos como o QREN sublinhando-se a ideia de competitividade que lhe está subjacente, mas, pelo que tenho visto, lido e ouvido, há uma enorme incerteza, e uma não menor desconfiança, em relação aos reflexos que, a médio prazo, tudo isto pode ter na forma como olhamos para nós próprios e nos relacionamos com o mundo.
O desconforto com que se fala de investimento em cultura em tempo de crise não é legítimo. A nossa identidade e capacidade de afirmação num mercado global, que é cada vez mais competitivo, estão eminentemente dependentes da cultura e da criatividade, sendo também certo que estas são absolutamente indissociáveis da procura de soluções. Mais do que nunca, precisamos de ser capazes de interpretar a nossa realidade com lucidez para que, de moto próprio, possamos ter ideias que nos ajudem a resolver os problemas que se nos colocam, sejam eles de ordem económica, política, social, ou outras.
Para que a discussão seja pertinente, é também muito importante que sejamos capazes de fazer uma distinção clara entre cultura popular, ou de massas, e alta cultura, ou cultura de elite (que, como escreveu num artigo recente Peter Aspden, colunista do Financial Times, se encontra “magoada, ensimesmada, voltada essencialmente para os nichos académicos e para o público especializado”), sabendo à partida que estas não têm porque se anular ou substituir entre si, e que, tendo princípios e características diferentes, se cruzam por vezes nas suas finalidades, sejam elas lúdicas ou de formação. Por outro lado, e como muitos pretendem, não podemos medir o interesse e a utilidade pública da cultura pelas receitas que esta gera em função do investimento, seja ele público ou privado, que lhe é anualmente destinado. Parte do problema reside no facto de as pessoas confundirem frequentemente entretenimento com cultura. Os principais agentes e gestores culturais deste país podem e devem ter um papel activo na tentativa de se encontrar uma relação de equilíbrio entre estes dois pontos, não só através da programação, mas também ao criarem condições para que as infra-estruturas e os recursos humanos existentes sejam devidamente rentabilizados para projectos que possam contribuir para a mudança de mentalidades e servir de estímulo às economias locais.
O desenvolvimento de novas tecnologias associadas à internet deu origem a uma série de fenómenos que estão directamente relacionados com o evoluir das redes sociais e que abriram caminho à proliferação de reality shows, concursos e afins, que promovem a obsessão pela fama e o endeusamento de uma série de “personalidades” sem talento. Criou-se uma subcultura que anda de mãos dadas com os interesses financeiros e as lutas de audiências que todos conhecemos, e que não só nos nivela por baixo como nos retira espírito crítico e o critério de avaliação em relação àquilo que é bom ou mau. E a maior parte das vezes é mesmo mau.
Sir Ken Robinson, autor do best-seller The Element, considera que “um dos inimigos da criatividade e da inovação, especialmente em relação ao nosso próprio desenvolvimento é o senso comum”, e em Portugal o senso comum, que é onde estão as audiências e/ou o capital, tem duas subcategorias muito fortes: a primeira onde o “entretenimento” prevalece sobre o “saber”; e a segunda em que está absolutamente politizado, institucionalizado e atado a chavões como “criatividade”, “inovação”, “sustentabilidade”, entre outros, que não se sabe muito bem como utilizar. Resta-nos depois uma categoria à parte, onde se encontram os poucos que possuem os meios e os recursos humanos para, de uma forma sóbria e competente, nos irem mostrando que é possível fazer mais, melhor e diferente, e dentro desses poucos identifico uma ou duas instituições privadas de craveira mundial, mas que, de tal maneira fogem à norma, que são mais movimentos de contracultura, enquanto contrapeso ao establishment, do que outra coisa.

JMA.

AGI Open 2010 - Porto.





"Addressed in particular to design students and professionals, but also to public in general, this will be a unique opportunity to meet the designers that have set the pace for the international visual culture for the last decades. Departing from a broader concept of communication design, they will be invited to share with the public their creative processes in areas as diverse as graphic design, new technologies, art direction, photography, illustration or animation."

Um evento a não perder, organizado pela Dados Favoritos (com a alma R2 Design).

Para mais informações visitar aqui o site do evento.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Parkour.


Para quem não viu aqui fica o filme realizado pelo Silvério Canto Moniz/Krypton/My Brand para o ActivoBank e que foi seleccionado para a shortlist da última edição do Cannes Lions International Advertising Festival. Boa Silvas.

quinta-feira, 1 de julho de 2010