segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Keep Calm...





Elusive Time.



In love it may be dangerous
to reckon on time to count

on it time’s here and then
it’s gone I’m not thinking

of death or disaster but of
the slippage the unpredictable

disappearance of days on which
we were depending for happiness.


James Laughlin, “Elusive Time” from Poems New and Selected.
Foto: Virgílio Ferreira.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Marcas de Vinho.


Há uns anos fui a Berlim com um amigo. Alguém nos falou de um lugar conhecido como Weinereis, que ficava para os lados de Prenzlauer Berg, e pertencia a um importador de vinho. Disseram-nos também que abria exclusivamente ao domingo à noite, e que não existia qualquer placa na porta que o identificasse, pois não tinha as licenças necessárias para vender fosse o que fosse.
De facto, tratava-se de uma espécie de garagem, com uns seis ou sete metros de profundidade por quatro de largura, com uma pequena montra tapada com jornais que dava para a rua. As duas paredes laterais estavam totalmente forradas por garrafas de vinho, dispostas na horizontal, com a base virada para trás. Tintos e brancos, maioritariamente de origem europeia, mas também alguns argentinos e chilenos.
A sala estava iluminada por dois ou três pequenos focos, algumas velas, e a luz alternada vinda da projecção de um filme antigo, de cor sépia. Por ali estavam diferentes grupos de pessoas, desde o punk ao skater, passando pelos inevitáveis intelectuais que, com um look negligée e indumentárias anacrónicas em tons de verde-seco, castanho, amarelo-torrado ou bordeaux, compunham uma espécie de Ode ao Leste.
O dono do local dividia simpaticamente a sua função de DJ com a de relações públicas e, perante o nosso ar confuso, fez questão de nos explicar as regras da casa. Deveríamos dirigir-nos à cozinha, que se encontrava nas traseiras, e lavar um dos copos que estavam numa banca de mármore. Poderíamos então escolher uma das garrafas que estavam na garrafeira improvisada para as paredes da sala principal, e bebê-la, sozinhos, ou se assim o entendêssemos, partilhá-la com alguns dos presentes. O preço seria o que considerássemos justo para a garrafa escolhida, devendo o dinheiro ser deixado, à saída, num aquário que existia em cima de um balcão. Escolhemos então uma garrafa, e sentamo-nos num sofá velho que ali havia. De facto, era uma maneira interessante de promover o vinho, num dia da semana que, à priori, seria atípico para o beber, como também o seria para fazer negócios.
Há uns dois meses encontrei, entre bilhetes de avião e outras relíquias que arquivamos sem finalidade definida, umas fotocópias de um artigo intitulado “The party’s over”. Na primeira página tinha algumas marcas circulares acastanhadas, deixadas por uma garrafa de vinho tinto. Era Quinta do Carmo ’98 e, à saída, deixamos no aquário o valor justo a pagar por ele.

M&M's



quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Uprock!





Cuprocking, o novo graffiti.
Copos de plástico brancos fixos em redes funcionam segundo o mesmo princípio da composição de imagens por pixeis. É última tendência da Street Art que tem vindo a espalhar-se pelas principais capitais do mundo, e que está já a ser explorada em campanhas de publicidade de marcas como a Mooks.

cuprocking.com
mooks.com

sábado, 4 de outubro de 2008

By Appointment To His Majesty...


Qualquer profissional de comunicação saberá que 10 segundos de televisão, uma entrevista de uma página, ou a simples menção de um produto específico por parte de um líder de opinião, pode fazer mais por uma marca do que o seu investimento anual em meios.
Não é por acaso que as grandes marcas internacionais têm na publicidade indirecta um dos seus grandes trunfos de comunicação. Que produtor de vinho português não gostaria de ver publicada uma imagem de Kate Moss, sentada num famoso restaurante de Londres ou Nova Iorque, com uma garrafa do seu vinho exposto sobre a mesa; ou a bebê-la pelo gargalo que fosse...
No entanto, a associação entre marcas e celebridades nem sempre têm o melhor desfecho. A famosa casa Louis Roederer, viu-se recentemente envolvida num processo com o rapper norte-americano Jay-Z, presidente e CEO da Def Jam Records, que associara por diversas vezes o nome do champanhe Cristal às letras das suas músicas e aos seus videoclips, sendo também a bebida mais vendida do seu 40/40 Club, onde uma garrafa poderia custar entre 450 e 600 dólares. Jay-Z tem ainda a sua própria marca de roupa e uma produtora de filmes e, segundo a revista Fortune, a sua rede de negócios atingiu já um valor estimado em 286 milhões de dólares. Frédéric Rouzaud, Managing Director da Louis Roederer, quando questionado pela conceituada revista The Economist sobre se a associação entre o referido champanhe e o Bling Lifestyle, representado por artistas como Jay-Z, poderia prejudicar a imagem da marca respondeu: “É uma boa questão, mas o que é que podemos fazer? Nós não podemos proibir as pessoas de o comprar.” O rapper considerou as afirmações de Rouzaud racistas e boicotou o produto, retirando-o do seu clube e de todos os materiais promocionais associados à sua imagem e às suas marcas. O substituto eleito foi o ás de espadas da marca Cattier, Armand de Brignac - By Appointment to His Majesty the King of Rap, portanto.

The Harvest is Past...



"The Harvest is Past, the Summer is Ended, and We Are Not Saved."

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Épater le Bourgeois


A ideia de “work/life balance”, tão em voga noutros países, essencialmente nos do norte da Europa, está ainda num estado embrionário em Portugal. Salvo raras excepções, encontramo-nos ainda no ponto em que se considera competente quem sai às oito ou nove da noite do trabalho, e incompetente, preguiçoso, ou até sindicalista, quem se organiza para sair a horas “normais”, e ter vida própria. Por outro lado, as grandes empresas continuam a confundir os “benefits” que atribuem aos seus colaboradores, como os carros, telemóveis, laptops, seguro de saúde, mensalidade no ginásio, entre outros, com a qualidade de vida, maior ou menor, que lhes proporcionam. Naturalmente que há benefícios em trabalhar em empresas que premeiam de forma justa a competência, e promovem a progressão de carreira, mas também não deixa de ser verdade que, muitas vezes, os “benefits” são “areia para os olhos”, representando extensões dos locais de trabalho, e fazendo com que os colaboradores se sintam obrigados a estar disponíveis a horas em que é suposto estar com a família, com os amigos, ou simplesmente a descansar. Os “benefits” nem sempre trazem benefício.
Nunca houve tanto show-off e, a certa altura, “sabe-se o preço de tudo mas não se sabe o valor de nada”.
O brasileiro Millôr Fernandes disse uma vez: “Pode ser difícil encontrar agulha em palheiro, mas não descalço”. Todos sabemos que nem sempre é fácil encontrar o emprego ideal, mas se nos “descalçarmos”, (e digo isto essencialmente para aqueles que andam à procura do primeiro emprego) - e descalçarmo-nos pode, até certo ponto, significar arriscar áreas que nos digam alguma coisa e que tenham a ver com o nosso perfil em detrimento de alguns dos tais “benefits” que às vezes nos iludem durante anos - teremos certamente uma maior probabilidade de ter sucesso na profissão que escolhemos.
Vejo também que há uma obsessão desmesurada com o academismo. As pessoas saem das universidades e continuam automaticamente o ciclo de aprendizagem nos mestrados, doutoramentos, etc., o que faz com que tenham uma perspectiva teórica do mundo do trabalho, por um lado, e uma enorme falta de noção em relação ao modo de aplicar os conhecimentos adquiridos por outro, e dentro deste grupo encontram-se alguns professores universitários. Mais importante do que decorarmos supostas técnicas ou fórmulas mágicas é sabermos interpretar realidades específicas e em constante mutação, e ter instinto para reagir, antecipando problemas e soluções. É um processo que se prende mais com a cultura do que com qualquer outra coisa. Obviamente que não pretendo anular o valor intelectual e o empenho que estão inerentes a um mestrado ou um doutoramento, quando feitos a seu tempo e com uma aplicabilidade concreta, mas sim dizer que acho que não vale a pena fazer-se, um ou outro, exclusivamente para se “puxar pelos galões” numa entrevista de trabalho. Falta “mundo” a uma grande parte dos nossos profissionais, e quando digo “mundo” não é propriamente o mundo que encontramos numa viagem, por melhor que esta seja - até porque, hoje em dia, até as viagens são “de pacote”, oferecendo às pessoas amostras tipo “conserva” de diferentes recantos do mundo, sem grandes margens para o lado romântico da descoberta – mas, essencialmente, falta-lhes ler muito, conhecer pessoas novas, andar a pé, ver filmes antigos, ouvir música para além daquela que está nos postos de escuta da Fnac, saber como improvisar um receita, ou arriscar mudar de emprego.