segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Marcas de Vinho.


Há uns anos fui a Berlim com um amigo. Alguém nos falou de um lugar conhecido como Weinereis, que ficava para os lados de Prenzlauer Berg, e pertencia a um importador de vinho. Disseram-nos também que abria exclusivamente ao domingo à noite, e que não existia qualquer placa na porta que o identificasse, pois não tinha as licenças necessárias para vender fosse o que fosse.
De facto, tratava-se de uma espécie de garagem, com uns seis ou sete metros de profundidade por quatro de largura, com uma pequena montra tapada com jornais que dava para a rua. As duas paredes laterais estavam totalmente forradas por garrafas de vinho, dispostas na horizontal, com a base virada para trás. Tintos e brancos, maioritariamente de origem europeia, mas também alguns argentinos e chilenos.
A sala estava iluminada por dois ou três pequenos focos, algumas velas, e a luz alternada vinda da projecção de um filme antigo, de cor sépia. Por ali estavam diferentes grupos de pessoas, desde o punk ao skater, passando pelos inevitáveis intelectuais que, com um look negligée e indumentárias anacrónicas em tons de verde-seco, castanho, amarelo-torrado ou bordeaux, compunham uma espécie de Ode ao Leste.
O dono do local dividia simpaticamente a sua função de DJ com a de relações públicas e, perante o nosso ar confuso, fez questão de nos explicar as regras da casa. Deveríamos dirigir-nos à cozinha, que se encontrava nas traseiras, e lavar um dos copos que estavam numa banca de mármore. Poderíamos então escolher uma das garrafas que estavam na garrafeira improvisada para as paredes da sala principal, e bebê-la, sozinhos, ou se assim o entendêssemos, partilhá-la com alguns dos presentes. O preço seria o que considerássemos justo para a garrafa escolhida, devendo o dinheiro ser deixado, à saída, num aquário que existia em cima de um balcão. Escolhemos então uma garrafa, e sentamo-nos num sofá velho que ali havia. De facto, era uma maneira interessante de promover o vinho, num dia da semana que, à priori, seria atípico para o beber, como também o seria para fazer negócios.
Há uns dois meses encontrei, entre bilhetes de avião e outras relíquias que arquivamos sem finalidade definida, umas fotocópias de um artigo intitulado “The party’s over”. Na primeira página tinha algumas marcas circulares acastanhadas, deixadas por uma garrafa de vinho tinto. Era Quinta do Carmo ’98 e, à saída, deixamos no aquário o valor justo a pagar por ele.

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