sexta-feira, 28 de novembro de 2008

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

S.P.O.T



A Ana Neto e sus muchachos estão de parabéns. Um ano de S.P.O.T a fazer pela cultura no Porto. 
http://www.myspace.com/spotarte

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Helen Levitt



Noz em Nova Iorque.



Raquel Sanguedo foi, desde sempre, uma daquelas pessoas que acham que “só os peixes mortos vão com a corrente”. Foi contra a corrente que há seis anos fugiu do Porto para Nova Iorque para fazer um MBA. Com um horário apertado pelos estudos, começou a trabalhar nas horas vagas a servir à mesa no número 118 de St.Marks Place, no St.Dymphna’s, um restaurante irlandês no coração de East Village. É um lugar muito simpático, um restaurante-bar de bairro, meeting point de artistas, despretensioso, e onde se come muito bem. Não demorou muito tempo até a Raquel se tornar gerente, e ser a imagem de marca da casa. De sorriso rasgado e braços, literalmente, abertos a todos aqueles que ali entram, passou, pouco tempo depois, de gerente a sócia, até que no final de 2007 acabou mesmo por tomar conta do lugar. O St.Dymphnas é dela.
Curiosamente, St.Dymphnas (Santa Dymphna) é a padroeira daqueles que sofrem de afecções mentais e nervosas, o que, garanto-vos, não ser o caso desta portuguesa de 31 anos que, com um percurso digno de se tornar argumento para um filme, tem vindo a marcar terreno na Big Apple.
O vinho a copo, ou neste caso o wine by the glass, é prática comum em grande parte dos bares e restaurantes trendy da cidade, não sendo excepção no St.Dymphnas, muito embora os vinhos portugueses pouco ou nada representados, segundo percebi porque em termos de preço agora agravado pelo valor alto do Euro em relação ao Dólar, se torna muito difícil de competir com os vinhos da Califórnia, Chile, Argentina, entre outros.
Mas a história não fica por aqui. A Raquel, como já referi, e como boa portuguesa que é, tem um enorme jeito para receber pessoas e para as servir. Tendo os contactos e o know-how acumulados por alguns anos na área da restauração, começou a fazer, com a sua irmã Patrícia, pequenos serviços de catering para empresas e pequenas festas. Criaram então a Noz Home & Catering. No seu site (nozcatering.com), irrepreensível em termos de imagem, podemos ler qualquer coisa como isto que aqui deixo em tradução livre: “Um reino independente desde o séc.XII, Portugal tem uma das mais ricas histórias e culturas de toda a Europa. (...)A Noz Home & Catering, uma companhia portuguesa sediada em Nova Iorque, traz-lhe, através do Atlântico, os autênticos sabores, as especialidades e a decoração da sua terra natal (...).”
Com clientes como Paul McCartney, Calvin Klein, Armani, Carolina Herrera, Vanity Fair ou Elle, é de coração posto na escolha dos diferentes produtos e no cuidado com a sua imagem que fazem a gestão de duas vertentes distintas dentro da mesma empresa, por um lado a realização de serviços de catering de qualidade, com uma média de oito serviços por dia e, por outro, a promoção e venda de produtos portugueses como jóias, serviços de mesa, entre outros.
A cereja no bolo é o facto de estas duas empreendedoras serem bonitas, o que nos ajuda a contrariar a imagem da emigrante portuguesa com bigode, vestida de preto, e que, mesmo quando já está bem na vida, continua a carregar, de semblante triste, o fardo do fado. Estão de parabéns porque, em Nova Iorque, dizer St.Dymphna’s ou Noz Home & Catering, é dizer: “É assim que se faz em Portugal, e bem”.

JMA
Publicado no Semanário Económico

sábado, 1 de novembro de 2008

Zumba!



Ontem ao fim da tarde saí do trabalho e fui até à praia. Desde que lá cheguei até me vir embora, cerca de uma hora depois, dois miúdos estiveram a dar “um” apaixonado beijo. 
A certa altura, fiz um quadrado com as mãos, simulei o visor de uma máquina fotográfica e, com aquelas duas silhuetas entrecortadas pela luz do sol, compus um postal kitsch de verão, daqueles que são colocados em expositores rotativos à porta das lojas que vendem artigos de praia, jornais, revistas, baralhos de cartas, e corta-unhas com o galo de Barcelos ou com a Nossa Sr.ª de Fátima.
Confesso que não deixei de sentir alguma nostalgia daquelas paixões “de verão” que, apesar de sabermos que seriam sol de pouca dura, eram vividas com uma intensidade imensa.
Quando nos enfiávamos no carro com os nossos pais para ir de férias, partíamos já com a ideia de que há amar e amar há ir e voltar, nunca confundindo as paixões de verão, associadas à praia e aos corpos queimados, às de inverno, associadas à escola e aos cachecóis, porque eram, de facto, coisas diferentes. Tudo era leve.
Os anos passavam e os sentimentos agravavam-se. Entre os dezassete e os vinte anos, as coisas tornavam-se mais sérias e havia já algumas relações com uma espécie de garantia de 3 anos ou 100.000 Kms. Mas nem sempre tudo eram rosas. Mais cedo ou mais tarde, acabava por chegar a altura em que se perguntava “quem te pôs a mão sabendo que és minha?”, ou vice-versa, o que resultava em choro e ranger de dentes mas, como todos sabemos, o tempo sempre foi panaceia para esse tipo de males e, no Natal seguinte, fazíamos as pazes, e até oferecíamos um presente àquela que nos fizera sofrer e que tanto odiáramos uns meses antes, quanto mais não fosse uma réplica de um daqueles objectos que tornaram o Bordalo Pinheiro famoso.
De qualquer das maneiras, com mais ou menos peripécias pelo caminho, e dentro do ciclo habitual que se faz habitualmente dentro das sociedades aburguesadas, a vontade de “assentar” surge por volta dos 30 anos, num processo que culmina no casamento.
Quanto mais tempo passa, menos me convenço de que as pessoas sabem para o que vão quando se casam – é pelo método de Braille que as pessoas embarcam na experiência.
Em nenhuma outra altura da vida a ideia de Conhecimento V.S. Entendimento assume um carácter tão crucial.
Há tempos, dizia-me um sábio senhor de 94 anos que, numa relação “tudo se resume a sabermos manter a chama acesa, sem nos esquecermos de afastar tudo aquilo que é inflamável.” “No meu tempo, se fosse preciso, até o Zumba com Hormonas tomava”, o que, segundo percebi, era um medicamento cujos efeitos estão implícitos no nome. “As paixões não morrem, queimam-se”, e hoje têm tectos de palha seca.” Depois, com os olhos postos no vazio disse-me: “Tenho saudades da minha mulher...sabe, a solidão é a doença do século”.

JMA

Publicado anteriormente no Semanário Económico.
Foto: Judith Wigren-Slack in Learning To Love You More

Jeff Divine





segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Keep Calm...





Elusive Time.



In love it may be dangerous
to reckon on time to count

on it time’s here and then
it’s gone I’m not thinking

of death or disaster but of
the slippage the unpredictable

disappearance of days on which
we were depending for happiness.


James Laughlin, “Elusive Time” from Poems New and Selected.
Foto: Virgílio Ferreira.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Marcas de Vinho.


Há uns anos fui a Berlim com um amigo. Alguém nos falou de um lugar conhecido como Weinereis, que ficava para os lados de Prenzlauer Berg, e pertencia a um importador de vinho. Disseram-nos também que abria exclusivamente ao domingo à noite, e que não existia qualquer placa na porta que o identificasse, pois não tinha as licenças necessárias para vender fosse o que fosse.
De facto, tratava-se de uma espécie de garagem, com uns seis ou sete metros de profundidade por quatro de largura, com uma pequena montra tapada com jornais que dava para a rua. As duas paredes laterais estavam totalmente forradas por garrafas de vinho, dispostas na horizontal, com a base virada para trás. Tintos e brancos, maioritariamente de origem europeia, mas também alguns argentinos e chilenos.
A sala estava iluminada por dois ou três pequenos focos, algumas velas, e a luz alternada vinda da projecção de um filme antigo, de cor sépia. Por ali estavam diferentes grupos de pessoas, desde o punk ao skater, passando pelos inevitáveis intelectuais que, com um look negligée e indumentárias anacrónicas em tons de verde-seco, castanho, amarelo-torrado ou bordeaux, compunham uma espécie de Ode ao Leste.
O dono do local dividia simpaticamente a sua função de DJ com a de relações públicas e, perante o nosso ar confuso, fez questão de nos explicar as regras da casa. Deveríamos dirigir-nos à cozinha, que se encontrava nas traseiras, e lavar um dos copos que estavam numa banca de mármore. Poderíamos então escolher uma das garrafas que estavam na garrafeira improvisada para as paredes da sala principal, e bebê-la, sozinhos, ou se assim o entendêssemos, partilhá-la com alguns dos presentes. O preço seria o que considerássemos justo para a garrafa escolhida, devendo o dinheiro ser deixado, à saída, num aquário que existia em cima de um balcão. Escolhemos então uma garrafa, e sentamo-nos num sofá velho que ali havia. De facto, era uma maneira interessante de promover o vinho, num dia da semana que, à priori, seria atípico para o beber, como também o seria para fazer negócios.
Há uns dois meses encontrei, entre bilhetes de avião e outras relíquias que arquivamos sem finalidade definida, umas fotocópias de um artigo intitulado “The party’s over”. Na primeira página tinha algumas marcas circulares acastanhadas, deixadas por uma garrafa de vinho tinto. Era Quinta do Carmo ’98 e, à saída, deixamos no aquário o valor justo a pagar por ele.

M&M's



quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Uprock!





Cuprocking, o novo graffiti.
Copos de plástico brancos fixos em redes funcionam segundo o mesmo princípio da composição de imagens por pixeis. É última tendência da Street Art que tem vindo a espalhar-se pelas principais capitais do mundo, e que está já a ser explorada em campanhas de publicidade de marcas como a Mooks.

cuprocking.com
mooks.com

sábado, 4 de outubro de 2008

By Appointment To His Majesty...


Qualquer profissional de comunicação saberá que 10 segundos de televisão, uma entrevista de uma página, ou a simples menção de um produto específico por parte de um líder de opinião, pode fazer mais por uma marca do que o seu investimento anual em meios.
Não é por acaso que as grandes marcas internacionais têm na publicidade indirecta um dos seus grandes trunfos de comunicação. Que produtor de vinho português não gostaria de ver publicada uma imagem de Kate Moss, sentada num famoso restaurante de Londres ou Nova Iorque, com uma garrafa do seu vinho exposto sobre a mesa; ou a bebê-la pelo gargalo que fosse...
No entanto, a associação entre marcas e celebridades nem sempre têm o melhor desfecho. A famosa casa Louis Roederer, viu-se recentemente envolvida num processo com o rapper norte-americano Jay-Z, presidente e CEO da Def Jam Records, que associara por diversas vezes o nome do champanhe Cristal às letras das suas músicas e aos seus videoclips, sendo também a bebida mais vendida do seu 40/40 Club, onde uma garrafa poderia custar entre 450 e 600 dólares. Jay-Z tem ainda a sua própria marca de roupa e uma produtora de filmes e, segundo a revista Fortune, a sua rede de negócios atingiu já um valor estimado em 286 milhões de dólares. Frédéric Rouzaud, Managing Director da Louis Roederer, quando questionado pela conceituada revista The Economist sobre se a associação entre o referido champanhe e o Bling Lifestyle, representado por artistas como Jay-Z, poderia prejudicar a imagem da marca respondeu: “É uma boa questão, mas o que é que podemos fazer? Nós não podemos proibir as pessoas de o comprar.” O rapper considerou as afirmações de Rouzaud racistas e boicotou o produto, retirando-o do seu clube e de todos os materiais promocionais associados à sua imagem e às suas marcas. O substituto eleito foi o ás de espadas da marca Cattier, Armand de Brignac - By Appointment to His Majesty the King of Rap, portanto.

The Harvest is Past...



"The Harvest is Past, the Summer is Ended, and We Are Not Saved."

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Épater le Bourgeois


A ideia de “work/life balance”, tão em voga noutros países, essencialmente nos do norte da Europa, está ainda num estado embrionário em Portugal. Salvo raras excepções, encontramo-nos ainda no ponto em que se considera competente quem sai às oito ou nove da noite do trabalho, e incompetente, preguiçoso, ou até sindicalista, quem se organiza para sair a horas “normais”, e ter vida própria. Por outro lado, as grandes empresas continuam a confundir os “benefits” que atribuem aos seus colaboradores, como os carros, telemóveis, laptops, seguro de saúde, mensalidade no ginásio, entre outros, com a qualidade de vida, maior ou menor, que lhes proporcionam. Naturalmente que há benefícios em trabalhar em empresas que premeiam de forma justa a competência, e promovem a progressão de carreira, mas também não deixa de ser verdade que, muitas vezes, os “benefits” são “areia para os olhos”, representando extensões dos locais de trabalho, e fazendo com que os colaboradores se sintam obrigados a estar disponíveis a horas em que é suposto estar com a família, com os amigos, ou simplesmente a descansar. Os “benefits” nem sempre trazem benefício.
Nunca houve tanto show-off e, a certa altura, “sabe-se o preço de tudo mas não se sabe o valor de nada”.
O brasileiro Millôr Fernandes disse uma vez: “Pode ser difícil encontrar agulha em palheiro, mas não descalço”. Todos sabemos que nem sempre é fácil encontrar o emprego ideal, mas se nos “descalçarmos”, (e digo isto essencialmente para aqueles que andam à procura do primeiro emprego) - e descalçarmo-nos pode, até certo ponto, significar arriscar áreas que nos digam alguma coisa e que tenham a ver com o nosso perfil em detrimento de alguns dos tais “benefits” que às vezes nos iludem durante anos - teremos certamente uma maior probabilidade de ter sucesso na profissão que escolhemos.
Vejo também que há uma obsessão desmesurada com o academismo. As pessoas saem das universidades e continuam automaticamente o ciclo de aprendizagem nos mestrados, doutoramentos, etc., o que faz com que tenham uma perspectiva teórica do mundo do trabalho, por um lado, e uma enorme falta de noção em relação ao modo de aplicar os conhecimentos adquiridos por outro, e dentro deste grupo encontram-se alguns professores universitários. Mais importante do que decorarmos supostas técnicas ou fórmulas mágicas é sabermos interpretar realidades específicas e em constante mutação, e ter instinto para reagir, antecipando problemas e soluções. É um processo que se prende mais com a cultura do que com qualquer outra coisa. Obviamente que não pretendo anular o valor intelectual e o empenho que estão inerentes a um mestrado ou um doutoramento, quando feitos a seu tempo e com uma aplicabilidade concreta, mas sim dizer que acho que não vale a pena fazer-se, um ou outro, exclusivamente para se “puxar pelos galões” numa entrevista de trabalho. Falta “mundo” a uma grande parte dos nossos profissionais, e quando digo “mundo” não é propriamente o mundo que encontramos numa viagem, por melhor que esta seja - até porque, hoje em dia, até as viagens são “de pacote”, oferecendo às pessoas amostras tipo “conserva” de diferentes recantos do mundo, sem grandes margens para o lado romântico da descoberta – mas, essencialmente, falta-lhes ler muito, conhecer pessoas novas, andar a pé, ver filmes antigos, ouvir música para além daquela que está nos postos de escuta da Fnac, saber como improvisar um receita, ou arriscar mudar de emprego.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Tempo de crise, tempo de comunicar.


Saber escolher um bom vinho faz parte de uma cultura urbana contemporânea que assenta, muitas vezes, em princípios estéticos em detrimento de características técnicas e de produção que um connaisseur valorizaria à partida. Podemos verificar este facto noutras áreas de mercado, nomeadamente na proliferação de algumas marcas, de que é exemplo, entre outras, a sueca IKEA, em que os produtos assentam numa lógica de valorização estética com um preço reduzido, permitindo ao consumidor comum ter a sua casa “de revista”.
Num universo com milhares de marcas nacionais e internacionais, e porque um vinho não é só o conteúdo de uma garrafa, mas também a forma como é engarrafado, rotulado, embalado, distribuído e apresentado ao consumidor, deverá existir um cuidado crescente com a forma de comunicar, sendo que o aspecto final do produto dita, em cerca de 50% dos casos, a decisão de compra. Não pretendo naturalmente com isto dizer que se pretenda a “Ikeização” do mercado dos vinhos, mas sim, que se deverá prestar especial atenção às características visuais do produto; e há ainda muito por fazer.
Numa perspectiva de internacionalização, e num momento em que o preço baixo do dólar prejudica inevitavelmente a exportação para os diferentes países que lhe estão anexados, as marcas portuguesas podem, e devem, usufruir da consequente baixa de preços dos canais de comunicação, reforçando os seus investimentos na promoção dos seus produtos no exterior. Em termos de comunicação, julgo ser importante analisarmos a conjuntura internacional numa perspectiva optimista, ou pelo menos de “copo meio cheio”, evitando a habitual inércia justificada pela incógnita da variação das principais bolsas mundiais.
Em países como o nosso, em que é fácil aceder a bons vinhos em diferentes locais, desde as garrafeiras tradicionais, passando pelas grandes superfícies, que começam a ter já uma oferta interessante e representativa das diferentes regiões vitivinícolas, ou pelas lojas gourmet, a internet acaba por ter uma função mais informativa do que comercial, mas que não deverá ser descurada enquanto ferramenta de comunicação. Os sites bilingue (ou “tri”, e por aí fora) são uma tendência natural e, na minha perspectiva, obrigatória, para qualquer marca com ambições de internacionalização. O produtor deverá também ter especial atenção ao nome que dá aos produtos que pretende exportar, uma vez que a fonética da língua portuguesa nem sempre tem uma fácil dicção noutras línguas, e a memorização de um nome é essencial para a sua divulgação. As marcas de vinho portuguesas precisam então de aprender línguas, sair da redundância do vestido preto (que é uma opção elegante mas também comodista), comprar maquilhagem nova, e apanhar um avião à procura de novos desafios.

Souto de Moura+Ângelo de Sousa em Veneza.



Foto: Fernanda Abreu.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Os Moreira.



A Dona Palmira diz, com muita graça, que foi já há 29 anos que se casou, e veio de casa dos pais para ali para Matosinhos, para a Heróis de França. “Nos primeiros tempos chorava de manhã à noite”, até que um belo dia o marido, o Senhor António, se zangou com ela e lhe disse que, se ela não queria estar ali com ele, a ia levar onde a tinha ido buscar, que não queria ali ninguém contrariado. Foi “trigo limpo, farinha amparo”, e viram os filhos a crescer ali na rua e são felizes até hoje. Há 26 anos pegaram no Salta o Muro e, desde aí, fazem também felizes todos aqueles que ali entram para saborear os seus petiscos. Da mobília desta casa fazem parte a Carla, que tem uns olhos de um azul caribenho, e o Augusto, um leixonense ferrenho que ostenta fantásticas pulseiras e anéis de ouro, que lhe dão um toque distinto no manuseio das travessas. A Carla e o Augusto não são Moreira mas são irmãos, e servem naquele restaurante, respectivamente, há seis e oito anos.
À entrada, atrás do seu balcão (e aquele balcão é mesmo dele, porque dali nunca o vi sair, a não ser para se sentar numa das mesas livres para comer com o pessoal, quando terminado o serviço) temos sempre o Sr. António que, de caneta Bic atrás da orelha, vai recebendo quem chega. Quem vai ao Salta o Muro sabe que, à partida, vai esperar, e de pé, o que não é necessariamente um problema, uma vez que o Sr. António sabe bem como entreter os clientes com uns jaquinzinhos fritos, quando os há, umas tiras de presunto cortadas na hora, broa, azeitonas e umas lambretas como só ele as sabe tirar. Uma vez sentados à mesa, são-nos enunciadas, em voz rouca pela Carla, ou numa voz mais aguda pelo Augusto, as iguarias do dia, que são sempre diferentes e boas. Bacalhau assado na brasa, robalo grelhado, raia frita, salmonete, sardinhas (no tempo delas, e ali o tempo delas é levado a sério), ou a caldeirada de peixe, são algumas das sugestões que aqui deixo ficar. Uma vez orientadas as coisas na cozinha, a Dona Palmira faz uma visita às mesas, sempre com uma história engraçada para contar, do tempo em que a Maria Cachucha era nova e as histórias começavam por “Era uma vez...”. Diz-me sempre, “sabe que a vida, às vezes, é complicada mas é muito bonita”. No fim do jantar é-nos servida uma das melhores mousses de chocolate do país.
A decoração é rústica, com as madeiras pintadas de “verde água”, e remete para a época em que o Salta o Muro ainda era uma mercearia e não tinha esse nome, e os trabalhadores das docas saltavam o muro das traseiras para ali irem petiscar qualquer coisa. Os preços por refeição ficam entre os 10 e os 15 Euros.
Podia deixar aqui o número de telefone, mas não vale a pena, uma vez que não se aceitam marcações. O nome da rua está na ali atrás, na primeira frase do texto, e o número da porta é o 386.

6 feet.





An issue.


Ou se pensa, ou os outros pensam por nós e nos dominam, pervertem e disciplinam os nossos gostos naturais; civilizam-nos e esterilizam-nos.”

F.Scott Fitzgerald, In Terna é a Noite.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

domingo, 21 de setembro de 2008

A Sociedade.


"A sociedade, de um modo geral, é assim: suporta mal a graça e o desprendido génio das pessoas e trata de amargar-lhes a vida. Com o génio talvez se queira dizer um sentimento movediço, que não se fixa em nada e se aparenta com a falta de gratidão. Isto é muitíssimo mal recebido num grupo que se empenha em promulgar leis com fins de se defender da sua própria inimizade com os demais."

In Jóia de Família, Agustina Bessa-Luís.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Picasso.


" A partir do momento em que a arte deixa de ser alimento dos melhores cérebros, o artista pode usar todas as artimanhas do charlatão intelectual. As pessoas refinadas, os ricos e os ociosos profissionais, pretendem apenas aquilo que é sensacional e escandaloso na arte moderna. E, desde os dias do cubismo, eu servi esses rapazes com aquilo que eles pretendiam e pacifiquei os críticos com todo o tipo de ideias idiotas que me passaram pela cabeça. Ao mesmo tempo que me entretive com todos esses idiotas, tornei-me famoso e muito rico. Não passo de um palhaço público, uma atracção de feira. É-me penoso confessar isto, mas, no final, é o mais honesto." Pablo Picasso, in The American Mercury, Agosto 1957.

The New Yorker.






E por aí fora...